julho 02, 2004

Nao gosto de futebol

Lourenço Medeiros, Director Editorial da SIC Online, escreveu um artigo muito interessante sobre esta súbita febre provocada pelo chamado "Desporto Rei". Aqui fica o artigo e o link...


"Não gosto de futebol

Nem sequer de nacionalismos. Sou europeu, não deixo por isso de defender no que me compete, o país, a cultura, de Portugal ou de cada região.


Nunca ligo a televisão para ver um jogo. Tenho um desconhecimento tão profundo do que se passa no futebol que se pode considerar um defeito num jornalista. Mas enfim, ninguém pode saber de tudo.
Esta onda é de tal forma envolvente que dei por mim a ver os jogos da selecção. Esquecendo os escândalos, as trafulhices a nível de jogos ou de negociatas menos limpas que assaltam periodicamente as páginas dos jornais.

A minha aversão a clubites é de tal ordem que um antigo chefe meu esteve bem uns dois anos a tentar saber qual era o meu clube. Eu nunca percebi porque é que se eu fosse simpatizante de algum não havia de dizer, mas parece que há gente que é assim.
Ao fim dos dois anos, estava eu a escrever calmamente, quando me viro para a redacção, e pergunto – mas porquê tanta agitação? Afinal quem é que está a jogar? Isto deve ter sido no dia de um qualquer Sporting – Benfica ou coisa parecida. O facto é que nesse dia ele se convenceu que não tenho sequer uma vaga simpatia por qualquer clube de futebol.

Até tenho um pouco a mania de que sou relativamente distante em relação aos fenómenos de massas. Não gosto de me sentir parte da multidão, prefiro estar ao lado e observar. Tenho por vezes até pena de não me envolver mais, de não sentir mais vezes aquele entusiasmo das grandes causas em que nos envolvemos com a alma toda. Tenho também pena que quer em Portugal, quer na Europa, dificilmente nos mobilizemos mais por causas. Timor foi a excepção nos últimos anos. Os referendos e a forte abstenção foram a regra.

Desta vez é diferente, já dei por mim a tremer frente à televisão. No trabalho não consigo deixar de espreitar a TV. Nos jogos de Portugal pára tudo. Sigo cada corrida, cada ameaça de aproximação à baliza. Acho que aquele passe foi bonito, irrito-me com as agressões. Dou por mim a apreciar o fantástico domínio de bola que aquela gente tem, que é de facto impressionante e nunca liguei a isso. Dou comigo a achar que tenho opinião, como se para isso não fosse preciso saber alguma coisa do assunto.

Fiz o que disse à redacção que nunca faria, escrevi um editorial que fala de futebol. Não acho ainda que tenha o direito de opinar por escrito sobre o comportamento das selecções. E tenho uma angústia, no domingo vou estar muito longe, com um oceano pelo meio. Mas quero acreditar que hei-de encontrar uma televisão para ver a final do Euro em directo. Pode ser que tenha sequelas. Que seja qual for o resultado, não esqueçamos a bandeira e a união."