junho 13, 2005

As palavras

Foi com alguma surpresa e grande pesar que acolhi a noticia da morte de Eugenio de Andrade..Marco incontornável da poesia portuguesa deste último século, a sua obra foi traduzida em mais de 20 línguas.

Gosto muito da sua poesia..e como esquecer as deliciosas aulas de português no 12ºano, onde Eugénio foi, durante algum tempo, rei e senhor...percorrendo livremente a sua obra com ele embarcavamos na magia das (suas) palavras... E o exame nacional, que de obrigação passou a prazer, forma priveligiada de discorrer livremente sobre a obra deste grande poeta? Conservo ainda hoje a essência do poema: a liberdade. Uma menina que ia descalça, e os seus pés se misturavam com o rebentar das ondas, num ambiente de paz, com a natureza como cúmplice.

Fica um dos primeiros poemas que li do autor...


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

2 Comments:

Blogger ... said...

O mesmo poema que nos perguntaram de quem era na praxe!...Do meu grupo fui eu que respondi...era o Silbo que perguntava...:')

10:39 da tarde  
Blogger NrowS said...

O Sílvio é muita cromo... :)

2:54 da manhã  

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