Memórias (com cartas mas sem declarações de amor)
Pousei o meu livro.
Aberto.
E abri a persiana.
Só um bocadinho..
Como costumava fazer naquela janela. E não fazia há anos. E ela corria. E senti-me voltar tão atrás no tempo..e voltei pra um tempo em que as coisas eram tão diferentes...Quando o meu pai me vinha dar um beijo de boa noite e me fazer o sinal da cruz. Confesso que, três anos passados, foi a primeira vez que senti falta desse gesto.
E lembrei-me de ver a chuva naquela janela. De ter crescido a ver a chuva naquela janela. De como as lágrimas acompanharam as gotas de lá de fora quando fiz a lesão na mão, quando acabei com o meu primeiro namorado, quando achei que o mundo estava demasiado pesado nos meus ombros de menina.
Foram três anos longe daquela chuva. Da janela..
Será por isso que quase não choveu nestes últimos anos?
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