outubro 29, 2005

Memórias (com cartas mas sem declarações de amor)

Já é de madrugada. Os (meus) fusos andam trocados, não faz mal. Madrugada ou meio-dia, a diferneça prende-se com a luz lá de fora..que não existe agora. É de madrugada. E, ao ouvir a chuva, resolvi fazer algo que não fazia há tempos.
Pousei o meu livro.

Aberto.


E abri a persiana.

Só um bocadinho..

Como costumava fazer naquela janela. E não fazia há anos. E ela corria. E senti-me voltar tão atrás no tempo..e voltei pra um tempo em que as coisas eram tão diferentes...Quando o meu pai me vinha dar um beijo de boa noite e me fazer o sinal da cruz. Confesso que, três anos passados, foi a primeira vez que senti falta desse gesto.
E lembrei-me de ver a chuva naquela janela. De ter crescido a ver a chuva naquela janela. De como as lágrimas acompanharam as gotas de lá de fora quando fiz a lesão na mão, quando acabei com o meu primeiro namorado, quando achei que o mundo estava demasiado pesado nos meus ombros de menina.

Foram três anos longe daquela chuva. Da janela..

Será por isso que quase não choveu nestes últimos anos?