novembro 26, 2005

Lidia

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)


E lá está ela. Sentada na sua manta, para não sujar o cândido vestido. E, de mãos enlaçadas, observa languidamente o curso inevitável e irreversivel do rio. Que corre indiferente à passividade de Ligia e à cobardia de Ricardo (Pessoa).

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Este poema já me fez pensar muito (é há vários anos)..É um daqueles poemas "verticais", que se estranha mas se entranha...para nunca mais nos largar. E, o que sempre me fez confusão (leia-se a cobardia do poema, que prefere sentimentos ermos ao fogo da paixão), hoje (finalmente) faz sentido. Porque o fogo queima.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.


Mas áquilo que não nos arrebata, nunca poderemos cobrar as lágrimas nem o arrependimento.

Porque nunca aconteceu.

2 Comments:

Blogger aL said...

"há quem viva escondido.. a vida inteira!"

Tenho pena de quem nunca se sentiu 'arrebatado'..

12:36 da tarde  
Blogger ... said...

olha o titulo é de proposito? é k nao é Lígia..mas sim Lídia! :P

3:30 da tarde  

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