setembro 22, 2006

Vivo num eterno paradoxo. O da saudade. O de te querer, sabendo-te longe. O de não te abraçar, estando tu a meu lado. O de tocar, ao de leve, os lábios. Sem os beijar. “grito, quem pode salvar-me do que está dentro de mim?” Porque em mim, há confusão e certeza. Sempre soube (talvez demasiadamente bem) o que queria. E agora, tendo o que quero, quero pra mim o que não tenho, mantendo o que já é meu. Por direito. Quero os vossos braços, assim como quero estas tardes de sol. Quero a minha solidão contente, com todas as gargalhadas e os barulhos de casa. Alguém que atravessa fora da passadeira, a buzina, as conversas de café, os jornais desordenados em cima da mesa. A chave na fechadura, o teu toque no telemóvel, e depois na pele. Olhando o meu sorriso, reparando na pintura que demorei horas a fazer, e na roupa, escolhida pra ti. No perfume, que sem ti, enjoa. Reparo agora, que sou, independentemente de tudo. Sou. Eu. Apenas e só, eu. Mesmo longe, mesmo deixando-me ficar, lentamente, pelo tempo, há algo em mim que renasce, se transforma, floresce, morre. A cada segundo de vida, a cada respirar teu. As palavras que dizemos não importam, mentem a todo o instante. Digo “tenho que ir”, mesmo só querendo ficar. Digo que não te quero, mesmo desejando a todo o instante teu sentir o teu respirar na pele. Minha. Finjo estar feliz, desenhando sorrisos, escondendo lágrimas que não deixo cair. Porque não consigo perceber o que se passa. E, por passar, não pára, não decanta, não se apura. Por mais que queira ver o que fica na peneira do tempo, esse mesmo tempo não deixa que analise os pedaços que não passaram pela rede. Os que olho na minha mão e guardo no bolso. Para mais tarde analisar. Preciso parar, pra ver o que ficou. E sei, no entanto, que ao parar, a saudade me toma e me leva para o abismo. Por isso não penso.

E vivo no meio do paradoxo.

1 Comments:

Blogger ... said...

bonito!:)..mas nao te quero no meio de paradoxos!

10:25 da tarde  

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