O primeiro do ano
-está frio
e ela sim, quase sem ouvir o que ele diz
-está um vento de neve
aquela que ela quer ver e de que ele tem medo não por ser assustadora mas por trazer consigo uma força castradora, este tempo leva à depressão (sabias que a Suécia é o pais com a maior taxa de suicídio do mundo?)
o tempo passa por ela com uma lentidão vertiginosa para ele, eles que nem se olham ela que ainda tenta que o cérebro processe palavras que ele quer pra si, lendo coisas diferentes que nalgum ponto terão algo em comum.
Lembra-se de desligar os telemóveis, sabe que amanhã terá chamadas não atendidas a que dará retorno, desculpando-se com a falta de bateria e o carregador que estava não sei onde também não estava em casa (não cogitei sequer sair) sabes como são estas coisas, é o mal -bem- das tecnologias (ficar sem bateria ou ter um botão off?)
Não era para ser assim (raramente é). A alegria transformou-se em decepção, num incomodo passivo, numa invasão consentida de espaços. Ele continua de costas, agora olha para fora, ouvindo o vento
-está um vento de neve
e as folhas rodopiam
-parece quase um tornado
Ela desiste de ouvir o silêncio que de tão gritante se tornou incomodo, Põe a tocar um cd que lhe lembra momentos em que se sentiu feliz quando ainda acreditava que este é um estado quase permanente -Tola ela- e esta recordação dói quer mudar o cd mas pára antes de carregar no eject, afinal há uma dor purificante nisto percebes porque hoje digo que sou pragmática? Nem ela sabe o porquê, mas assim se assume parece que dói menos do que pensar em sentimentos alegres como estados permanentes, nada é permanente só a morte é certa, este tempo leva à depressão.
“Perene flui a interminável hora,
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morremos. Colhe
O dia, porque és ele.”
(Ricardo Reis)
(Acho que lhe apanhei o estilo.)
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