outubro 06, 2007

Carta de Intenções

Sigo este caminho sem direcção especial,
placas apagadas, linhas contrárias de cada
lado das bermas, árvores caídas sobre a
própria sombra. Queria avançar para
onde não quero ir, mesmo que seja daí
que tenha que regressar. Podia ter nos
olhos a indicação do sol, e nas mãos
um resto de lua; com algumas palavras
fabricar uma fulguração de rumo,
que um céu de nuvens logo apagasse; e
do coração tirar um ritmo de passos
esquecidos no eco branco das
dunas. Assim, nem vejo por onde vou:
e sem saber ao que vou, fecho a
realidade que ficou para trás. Tenho
o nada que tenho pela frente; e a
claridade de um horizonte de mar,
sem velas nem aves, a derramar-se
numa aresta de montanhas. Fujo de
mim, tendo-me à mão; e estendo
a mão até ao vazio que fica no fim.


Nuno Júdice, O Estado dos Campos

1 Comments:

Blogger Tiago Vaz Osório said...

Muito bonito e muito bem escolhido!!!

12:05 da manhã  

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