Memórias olfativas I

Hoje pus o perfume que te dava vontade de me trincar.

Na ponta dos pés peguei no frasco e voltei a ti. O perfume de dias felizes em que andamos, abraçados, a descobrir um pouco de uma cidade que se tornou nossa. Em que perguntavas o porquê de estar tão bonita todos os dias, de ter tanto cuidado com a roupa, a pintura sempre nos olhos, a mala a condizer, e te respondia com sorriso aberto e um beijo roubado. O aroma de um tempo tão nosso, descoberto por acaso (como as melhores coisas da vida) e que dizias ter uma química única em mim. O que te quis dar e recusaste, já que a tua lembrança seria sempre a do seu sabor na minha pele, não de um liquido fechado num vidrinho de cheiro.

O perfume que usei pela última vez, contigo....na porta do comboio, entre beijos, abraços e muitas lágrimas, e que me proibiste de voltar a usar, com medo que outro que não tu gostasse do leve aroma a pêra....que hoje me fez voltar.