fevereiro 21, 2006











É ali.
Na ínfima partícula
imensa distância
que separa o "meu" do "teu"
a "minha" da "tua"
que começa o "nós".
Aquilo que sobrevive à minha mísera existência
e ao teu eterno arrastar.
O que não se vê
O que tocamos
como os lábios
e prendemos com os dedos
entrelaçados.
Os meus nos teus.
As minhas nas tuas.
É o que fica depois dos lençóis remexidos,
da cama fria.
O nó na garganta.
O meu no teu
a minha na tua
Nesta (e)terna fusão
indelével
percorro tuas costas desnudas
Dormes sobre a crueldade do Mundo
O infortúnio dos amantes.
E por um momento, meu e teu
minhas e tuas
passam a ser nossos.
Existe, então
efectivamente
um "nós".

fevereiro 14, 2006

Carta (Esboço)

Lembro-me agora que tenho que marcar um
encontro contigo, num sitio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sitio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: “Vem comigo!”, e devo dizer-te que muitas
vezes pensei isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.


Nuno Júdice

fevereiro 12, 2006

Cerveira



E 18 meses depois, sento-me novamente de frente para o rio. O rio não é o mesmo, o país não é o mesmo, o livro está numa língua diferente...eu não sou a mesma. Essa é a principal diferença.

Mais ainda gosto. De me sentar a ver o rio seguir no seu curso normal, indiferente aos pescadores que consertam as redes ali à frente, aos barcos ancorados e aos em movimento. Gosto deste silêncio, desta paz, deste abandono, descomprometido e confortável.

Gosto de ficar esquecida a olhar para as águas, ouvir o seu correr e ver os pássaros a passar..agarro meu livro e continuo a leitura perdida nas horas. Gosto deste frio, deste sol, deste "nada para fazer", dos pensamentos que me invadem e das pessoas que que vêm ao pensamento, os sentimentos à alma e ao coração..e vão correndo, sem aviso, de mansinho. Como as águas do rio que me acolhe na sua margem e me convida a ficar.

Esquecida do tempo e de mim.

fevereiro 10, 2006

Balanço dos últimos dias

"A felicidade não existe, existem momentos felizes"

Obrigada. Por dizeres o "óbvio". Que só atingi depois de o dizeres. Mesmo sendo claro aos olhos da maior parte do comum dos mortais.

PS- Gosto de ti

fevereiro 04, 2006

(Des)culpa cientifica

"Uma pesquisa da Universidade de Pisa acaba de divulgar que os hormônios são culpados pela duração de apenas dois anos de uma paixão amorosa. Segundo o estudo, enquanto no início da relação é abundante um elemento químico chamado neurotrofina, que provoca o desejo, com o passar do tempo a quantidade desta substância diminui, e ela é substituída por um hormônio denominado oxitocina, que consolida os sentimentos mais duráveis de amor e de compromisso.

Agora, a desculpa para pular a cerca ficou científica."

aqui

fevereiro 01, 2006

dúvida cruel

E agora pergunto eu: o que é que aconteceria se eu carregasse no botão "Delete this Blog"?